O pior dia da minha vida
Sempre ouvi dizer que a dor de perder uma mãe ou um pai, é uma das piores que o ser humano pode sentir. Nunca passei por isso, graças a Deus, mas já tive o azar de passar por uma situação muito parecida, que parece até besteira para quem ouve, mas terrível para quem passou.
Aconteceu em um domingo; eu estava dormindo na casa de minha mãe, que havia viajado. Como meus pais são separados, meu querido pai não estava presente, e meu irmão, como sempre, também não. Estava sozinho, dormindo, mas em um daqueles sonos que não desejo para o meu pior inimigo. Sonhava que algo de muito ruim havia acontecido com minha mãe, e a minha avó, que já é falecida, também estava presente no sonho. Acordei com os olhos cheios de lágrimas, parecendo uma criança que havia perdido o seu brinquedo favorito. Ainda assim, acordado, chorava muito, e uma sensação estranha de que algo de ruim realmente tivesse acontecido, tomava conta do meu coração. Em uma tentativa inútil, tentei falar com minha mãe, mas o celular estava sem área, motivo este que aumentou mais ainda o meu desespero. Isso aconteceu por volta das cinco horas da manhã, o dia praticamente já havia amanhecido, a minha maior sorte. Já pensou se acontecesse no meio da noite, sem ninguém em casa, só eu e Deus? Não gosto nem de imaginar.
Depois de alguns minutos bebi um copo d’água, me acalmei, e me deitei no sofá e fui assistir TV, pra ver se conseguia tirar aquele pensamento negativo da minha mente e pensar que aquilo não passava de um sonho bobo. Confesso que até consegui, mas depois disso, fui surpreendido por um telefonema. Meu coração disparou. Nem queria atender pensando que o pior tivesse acontecido. Porém, também passou pela minha cabeça que poderia ser minha mãe, e que tudo estava bem. Mas ela sabe que eu não acordo tão cedo, principalmente dia de domingo, e não iria me ligar àquela hora. Mesmo assim atendi. Minha voz quase que não saia; foi um daqueles alôs de quem está horas sem comer e nem tem mais voz. Foi minha tia avó. Ufa, que alívio – pensei. Mas como alegria de pobre dura pouco, esse alívio desapareceu em frações de segundos, com palavras que saiam da boca de minha tia. Ela sem saber que minha mãe estava viajando, e muito menos que eu tinha tido um sonho ruim, me perguntava pela sobrinha, e se ela estava bem, pois tinha tido um pesadelo horrível com ela há minutos atrás. Para mim o mundo desmoronou naquele instante; eu não conseguia responder mais nada. O sonho da minha tia, naquele momento, havia reforçado a hipótese de que de fato alguma coisa ruim havia acontecido. Eu só fazia chorar, chorava muito, soluçava! Mas depois, com minha tia já desesperada, falei que tinha tido um pesadelo também, e esse era o motivo de eu estar chorando. Ela ficou mais desesperada ainda, mas tentou disfarçar para tentar me deixar mais tranqüilo, e falou que ia à missa fazer uma oração, e que depois me ligava. Ao desligar, eu chorava muito, mas muito. Minha mão tremia. Tentei ligar pra minha mãe novamente, mas aquela voz gravada e insuportável daquelas mulheres, dizia que o celular ainda estava fora de área ou desligado.
Tempo vai, tempo vem, e depois de duas horas mais ou menos de sofrimento, minha mãe liga. Minha tia já havia conseguido falar com ela e já tinha contado tudo. Minha mãe disse que era pra eu ficar tranquilo, e que estava tudo bem, e que umas dez horas o ônibus ia sair e ela ia chegar em casa. Entretanto, como um bom filho preocupado (modéstia parte), fiquei nervoso o dia inteiro. Só ficaria bem quando eu visse minha mãe. A noite chegou, e eu sucessivas vezes olhava para o portão, esperando que ela o abrisse e eu a reencontrasse. E foi isso que aconteceu depois de algum tempo. Quando a vi, meus olhos brilharam, e aquele sentimento de angústia que estava dentro de mim, havia sido tomado pela alegria. Mas não era uma alegria qualquer. Era a alegria de ver a minha mãe bem, viva. Corri, e dei um daqueles abraços bem apertados, que fazia tempo que eu não dava, e tudo ficou ótimo.
Parece até história de criancinha mimada, mas naquele dia eu senti qual é a dor de perder uma mãe, mesmo sem ter perdido. Só quem passou sabe explicar. Sempre fui muito supersticioso em relação a sonhos, e até hoje não entendo essa ironia do destino em fazer duas pessoas terem pesadelos com a mesma pessoa, e praticamente no mesmo horário. Mas sei que nada vai acontecer.
De todos os dias que eu passei esse sem dúvidas, foi o pior da minha vida.
João Ricardo <3